terça-feira, 26 de maio de 2009

O caderninho do estágio



Nunca imaginei ser tão apegada a coisas pequenas. Na verdade, é contraditório usar essa palavra, mas foi mais ou menos uma coisa assim que minha mãe usou para descrever meu caderninho.
A história foi mais ou menos essa. Cheguei em casa, tínhamos acabado de se mudar, de uma casa gigante, na qual moramos por quase duas décadas, para esses apartamentos de hoje, que você entra e com três passos já chegou ao fim. Foi um desespero.
Na primeira semana, se alguém precisasse de um garfo, não achava. Minha mãe resolveu dar aquela arrumação, me deixando um pouco nervosa. O primeiro dia de trabalho foi no quarto do meu irmão. O segundo, no dela. Mas era inevitável...O terceiro dia tinha chegado, e este, estava destinado ao meu quarto. Minha mãe ficou dois dias sentada jogando as “tralhas” fora, colocando roupas velhas para fora do armário, sapatos...
Aquilo estava começando a me desesperar. Quando saía de casa tinha uma sacola para o lixo e outra para a Igreja. Quando chegava do estágio, aquelas sacolas tinham se multiplicado em um número assustador. Fiquei com medo de depois daquela arrumação, eu própria precisar de doações. Mas não falava nada, porque afinal, aquilo tudo era necessário. E o pior que era mesmo.
Mas no segundo, e último dia de faxina no meu quarto, entre muitos papéis, mas muitos mesmo, vi um caderninho, daqueles simples que criança usa quando está aprendendo a escrever. Todo velho, com todas as páginas escritas. Estava meio amassado, no meio de algumas provas e rascunhos.
Na mesma hora que vi aquele colorido, mas já desbotado, cardeninho, mil lembranças e momentos passaram pela minha cabeça como um flash. Ele não era velho, muito menos da época de escola. Ele foi o meu primeiro caderninho de anotações do meu primeiro estágio.
Me lembro como se fosse hoje, no meu primeiro dia como estagiária, quando jogaram um caderninho de criança na minha mão, e falaram “escreve aí para não esquecer”. Desde então, tudo, mas tudo...desde dicas gramaticais até números que precisava ligar estavam escritos naquelas páginas. Em dois meses, suas folhas em branco acabaram. E, no mesmo momento, me deram um outro caderninho, do mesmo modelo, só que um pouco menos colorido.
Parece clichê. Não só parece como é um clichê, mas não tem como não citar: o primeiro a gente nunca esquece. E aquele, eu nunca vou esquecer.Na mesma hora que o vi jogado ao meio das tralhas, em uma tentativa frustada, tentei pegar o caderninho e guardar em um canto. Escutei uma voz atrás de mim, perguntando o que eu estava catando. Falei que aquele era o meu primeiro caderninho, do meu primeiro estágio. E que não queria jogar fora. Minha mãe, visivelmente nervosa com a arrumação, tentou me convencem a jogar aquilo fora. Concordei. E assim que ela virou, o peguei e guardei no fundo do guarda-roupa. Até hoje ele está lá. Sim, está ocupando um espaço que, talvez eu precisasse. Mas percebi que era tinha um espaço no meio daquela história toda. Ele sempre terá um espaço, só dele.

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